segunda-feira, julho 03, 2006

Tiroteio na Rua México

No meio da reunião eu ouço tiros. Penso que é um carro velho fazendo estalos. É o mais próximo de um tiro que eu já tinha ouvido até hoje. "É bala", constata alguém cujo ouvido já está mais apurado. 20 segundos de olhares de condenação, outros 20 de resignação, e a reunião segue no papo sobre desenvolvimento econômico. Fico meio desconcentrada, com aquele barulho estalado latejando no meu sub-consciente.

A reunião acaba e encontramos um pequeno alvoroço na portaria. O barulho da ambulância é suspeito. Pergunto para um grupo de senhoras que parecem estar envolvidíssimas com a situação. "Um assalto a banco. Um tiroteio, uma vítima só". "Ladrão?". "Não, inocente. Passava de carro na hora errada, no lugar errado". A mesma esquina por onde eu passara momentos antes.

A ambulância vai embora e a confusão se desfaz. A vida segue seu curso na mesma normalidade. De volta ao escritório, me perguntam sobre a reunião. "Foi ótima", eu respondo. E só depois me lembro dos tiros. Deus do céu, será que eu também estou entrando no estado anestesiado em que a maioria vive por aqui? Por quanto tempo vai latejar na minha cabeça o próximo tiro?

Um comentário:

F. disse...

Tiro solteiro, tiro casado, rajada de tiros, estalo seco de revólver, estalo forte de pistola, estrondo sequencial de fusil. Já perdi a conta das vezes que ouvi barulhos desse jeito na Cidade Nova, onde trabalho. Cada rajada é sempre saudada com urras pelos companheiros de redação que, mais acostumados do que eu, nem param de digitar a matéria sobre o treino do Flamengo. Outro dia, instantes depois dos estalos, um estrondo no teto espalhou as pessoas pelos cantos. Uma bala perdida furou o teto de zinco e foi parar dentro da redação. Não era primeira vez. Da outra, a Polícia Civil foi chamada e o perito garantiu. "Ela perde força quando bate no teto, se acertar alguém, não mata." Bastou. Na segunda vez, que eu presenciei, nem polícia chamaram.