terça-feira, julho 31, 2007

Monalisa sem sorriso

Ela está longe do ideal de beleza que eternizou a musa do gênio renascentista. Usa camiseta preta, cabelo sarará espichado para trás; não olha para o retratista, mas para o filho que carrega no colo. No fundo da foto colorida publicada pelo "O Globo", uma parede descascada ocupa o lugar da paisagem imaginária de Da Vinci. Monalisa Soares Nogueira tem 19 anos e nenhum motivo para sorrir. Moradora da Cidade de Deus, ela já teve de internar cinco vezes o filho.
Jonathan, de 1 ano e dois meses, é a personificação de uma estatística aterradora: 10,1% das crianças de Cidade de Deus estão desnutridas. Isso em plena Zona Oeste do Rio. É um número percentualmente maior do que o da desnutrição no Polígono da Seca, onde a Unicef encontrou, em 2005, 6,6% de desnutridos.
Enquanto os governos federal, estadual e municipal corriam para gastar 4 bilhões de reais nas obras do Pan-Maravilha, o filho de Monalisa corria risco de vida por falta de comida. Ainda corre, na verdade. Ele não está totalmente recuperado.
O levantamento da fome na Cidade de Deus foi feito pelo Centro de Estudos e Ações Culturais e de Cidadania, uma ONG da própria comunidade, e pela ONG internacional ActionAid. Eles passaram seis meses entrevistando 2.420 crianças da comunidade. Usaram os parâmetros da Organização Mundial da Saúde para concluir que 31,6% das crianças daquela favela têm algum tipo de comprometimento alimentar.
Tudo isso a apenas dois quilômetros da Vila Pan-Americana.

domingo, julho 29, 2007

O Pan mal acabou...

... e a viatura de polícia com faixa cor-de-laranja, novinha em folha, placas de Brasília, já sumiu da esquina aqui de casa.

sábado, julho 28, 2007

Espírito de porco

Um amigo adepto da teoria do cipó (tudo que vai, volta) defende, desde o início do Pan, que os americanos vão dar o troco no Brasil por Indianápolis-87. Explico. Naqueles Jogos, o time de Oscar, Marcel e Pipoca venceu a imbatível seleção americana de Basquete na final, na casa deles. A volta do cipó se daria com os americanos vencendo na final o imbatível time brasileiro de vôlei masculino. Ele dizia isso antes de EUA e Brasil chegarem à final. Por via das dúvidas, vou conferir pessoalmente se a teoria do cipó existe mesmo, ao vivo, lá no Maracanãzinho.

O circo do caos aéreo

O picadeiro do caos aéreo virou um circo de bizarrices depois da tragédia que matou 200 pessoas em São Paulo. Cada um apresenta uma idiotice pior que a outra como solução para a ameaça de Congonhas. Se o governo pode apresentar como panacéia a construção de um novo aeroporto na cidade (será que eles estão pensando em usar a Avenida Paulista?), então eu, um paulistano morador do Rio - e usuário freqüente da ponte aérea - também posso apresentar as minhas bobagens. A seguir, as colaborações desta Casa da Lagoa:

1. Mudança de Aeronaves - Vamos deixar claro: a pista de Congonhas não é perigosa. O aeroporto existe desde 1936 e só registrou dois acidentes graves até hoje. E o primeiro, como ficou provado, por falha da aeronave. O que torna Congonhas uma ameaça é a inépcia de um governo que se preocupa demais com os interesses das "companheiras aéreas" e libera uma pista para pousos e decolagens com a reforma incompleta. (Seria o equivalente a uma montadora colocar na rua um carro sem o freio instalado.) A discussão sobre o tamanho da pista (que já fez até o prefeito sair dizendo que vai desapropriar o Jabaquara) é uma idiotice. Nos Estados Unidos existem milhares de aeroportos regionais com pistas iguais ou menores. Como lá existe lei, as voadoras são obrigadas a operar com aeronaves médias, o que faz a alegria da Embraer e da Bombardier. A primeira proposta, então é simples: se a pista é curta para boeings e airbuses, basta o governo obrigar as "companheiras aéreas" a substituí-los por jatos comerciais médios.

2. Trem Bala - Eu admito, essa é uma solução em causa própria. Mas uma linha de trem rápido ligando o Rio a São Paulo ajudaria a desafogar o tráfego áereo em Congonhas. O governador do Rio já conseguiu três consórcios, dois europeus e um japonês, interessados em gastar US$ 9 bilhões para construir o ramal e colocar os trens em operação. Estima-se que a viagem entre a Central do Brasil e a Estação da Luz levaria 1h15 e a passagem custaria cerca de R$ 110,00. Quanto o governo federal precisa gastar? Nada, basta autorizar os consórcios a usarem os ramais abandonadas da Rede Ferroviária Federal para construir a linha. Por que não sai, então? Porque se o governo não coloca dinheiro nenhum, os políticos não têm como fazer suas caixinhas. Sob esse ponto de vista, é mais interessante gastar R$ 3 bilhões dos nossos impostos num novo aeroporto em São Paulo.

Nenhuma das idéias desta Casa da Lagoa jamais seria cogitada por uma razão clara: ambas contrariam os interesses das "companheiras aéreas", que distribuem cheques gordos para mais gente do que os grampos da PF são capazes de imaginar. Para encerrar, uma pergunta: será que o presidente voa no seu Airbus 319 com o reversor pinado?

quinta-feira, julho 26, 2007

A chama apagou

A ilha da fantasia a que se referia o primeiro post deste blog virou ainda mais fantástica desde que chegou ao Maracanã a tocha com a chama pan-americana. De repente, os cariocas redescobriram que o Rio também é legal à noite. Voltaram a caminhar pelos calçadões depois do pôr-do-sol, a correr na ciclovia da lagoa, a sair de seus bunkers fortificados onde se protegem da violência (real ou imaginária) quando não existem Jogos internacionais na cidade. Nem Força Nacional de Segurança armada em cada esquina.
Os crimes sumiram dos noticiários; os repórteres de polícia do maior jornal da cidade puderam guardar seus coletes à prova de bala nos armários por duas semanas; e o carro blindado da reportagem ficou na garagem da redação. Até parecia uma cidade normal de novo.
Mas aí, como nada é perfeito, o tempo virou. E a chuva chegou apagando a chama no Maracanã. Foram só 15 minutos sem pira acesa, na manhã de terça-feira, mas foi suficiente. No final do dia, o som dos tiroteios voltou a encher o ar da Cidade Nova. Só para lembrar que está próximo o fim do Pan de R$ 4 bilhões do Rio e, como sempre acontece, tudo vai voltar ao normal.

segunda-feira, julho 16, 2007

Achincalhe oficial

Sabe aquela velha imagem que se faz dos taxistas, de que estão sempre prontos a ludibriar turistas desavisados nas grandes cidades do mundo? Aquela que piora quando a cidade em questão é o Rio, onde a categoria tem fama de enganar ainda mais os turistas desavisados? Pois é, a prefeitura da Cidade Maravilhosa, numa tentativa de acabar com as maledicências sobre os motoristas de praça, decidiu oficializar o achincalhe. Graças a um decreto do alcaíde, durante os Jogos Pan-Americanos os táxis estão autorizados a cobrar bandeira 2 a qualquer hora do dia, qualquer dia da semana. Afinal, a cidade está cheia de turistas e, como eles podem nunca voltar, o melhor é tirar o máximo deles agora. E, convenhamos, turista existe para ser tungado mesmo. Mas não se desespere. Pela tarifa em bandeira 2, o turista e todos os moradores da cidade que precisam do serviço serão transportados em desconfortáveis Santanas velhos e fedidos, com bancos puídos. Só no Rio de Janeiro mesmo...

domingo, julho 15, 2007

Juras de amor

Na hora das declarações de amor não tinha padre, nem alegria nem tristeza, nem saúde nem doença. Tirando um papelzinho amassado do bolso, ela leu:
- Se eu tivesse que prometer algo a você, o que seria? Não posso prometer que você estará sempre confortável... Porque o conforto trás tédio e desconforto. Não posso prometer que todos os seus desejos serão realizados... Porque desejos, sejam eles realizados ou não, trazem a frustração. Não posso prometer que sempre haverá bons momentos... Porque são os maus momentos que nos fazem apreciar a alegria. Não posso prometer que você será rico, famoso ou poderoso... Porque todos eles podem ser o caminho para a miséria. Não posso prometer que sempre estaremos juntos... Porque é a separação que torna a união tão maravilhosa. Entretanto, se você estiver disposto a caminhar comigo, se você estiver disposto a valorizar o amor acima de tudo, eu prometo que essa será a vida mais rica e plena possível. Eu prometo que sua vida será uma eterna celebração, se você estiver disposto a caminhar em direção aos meus braços, se você estiver disposto a morar dentro do meu coração, você encontrará aquele por quem esteve esperando para sempre...Você encontrará a si mesmo em meus braços... Eu prometo.
Ele, sem papelzinho na mão, respondeu mais ou menos assim:
- Minha vida é escrever, por isso não escrevi nada para te dizer. Queria espaço para a espontaneidade. Porque eu sabia que assim te visse entrando por aquele tapete, sentiria a mesma emoção que sempre senti a cada vez que nos reencontramos. (E olha que não foram poucas!). A emoção que me fez saber, desde a primeira vez em que te vi, que era ao seu lado o lugar em que eu queria estar; o lugar em que eu seria mais feliz.
E assim juraram seu amor um para outro, sem lugar para que a morte os separe.

domingo, julho 08, 2007

Cristo Maravilha


Há alguns meses, quando começou a campanha Vote Cristo, eu torci o nariz. Achei ufanista e exagerado comparar a estátua com lugares como a muralha da China ou as cidades de Petra e Machu Pichu.

Nas últimas semanas, porém, meu coração foi amolecendo. O tempo todo, de lugares e momentos diferentes da minha rotina, ele estava lá, braços abertos, me acolhendo. Uma onipresença quase divina.

Foi aí que, de coração aberto, consegui enxergar a maravilha do Cristo: mais que uma obra gigante (o que sem dúvida ele é), o Cristo é grandioso em sua proeza. Que outro monumento religioso participa de maneira tão presente no dia-a-dia de tanta gente? Ele entra na casa das pessoas, no almoço de pé no balcão da casa de sucos, na janelinha gelada do avião (e no janelão suado do ônibus), no jogo de futebol e até no desfile carnaval. Sério: você consegue vê-lo ao cruzar o sambódromo, sem falar nos blocos de bairro que surgiram bem debaixo dos seus braços (o mais famoso é o Sovaco de Cristo - amo esse nome!).

Voto Cristo, portanto, porque não tem melhor símbolo da fé brasileira: acolhedora, de braços abertos, irreverente, distante das igrejas e perto da natureza. E, acima de tudo, absolutamente cotidiana. A espiritualidade ia passar direto pela vida de muito carioca não fosse o Cristo ali no alto, lembrando-o que o buraco é mais em cima! Isso, pra mim, já valeria o voto no redentor.

PS: Numa boa, os chineses são invejáveis em sua genialidade e determinação para fazer uma muralha daquelas. Mas não sei se chamaria de "maravilha do mundo moderno" a um muro com tantas motivações militares e segregacionistas. Não é desse tipo de símbolo que a civilização precisa. Sou mais o meu Cristo cabeludo abrindo os braços para o mundo todo.

sexta-feira, julho 06, 2007

10 cliques da casa da lagoa para comemorar um ano do blog!











Pra comemorar um ano de blog, a casa da lagoa finalmente apresenta seus moradores numa seleção de 10 imagens muito especiais!

Simplicidade

Camisetinha rosa com short azul, camisetinha laranja com short vermelho, camisetinha amarela com short verde, camisetinha azul sem short, mas com uma zebrinha de plástico na mão. Pulando ondas na beira do mar e rodando e "caindo" de bunda na água e levantando e pulando ondas de novo. De vez em quando, uma pausa para a zebrinha beber água. A platéia vazia é a praia de inverno. Água fria? Quem liga? Preocupação é a próxima brincadeira, depois que se cansarem de tantas gargalhadas. Em que momento da vida mesmo a gente perde essa simplicidade?

quinta-feira, julho 05, 2007

E não é que passou um ano?

E eu nem me dei conta do aniversário da Casa da Lagoa. Um ano de vida digital, completados no início de julho. Nesse tempo, foram 103 posts ( com este). Caraca, como passa rápido....

quarta-feira, julho 04, 2007

Dezessete anos

Houve tempo em que eu me enchia de orgulho no 1º de julho. Desta vez, passou em branco, mas eu costumava estufar o peito porque nesse dia colocava mais uma marquinha na conta do tempo de profissão. Este ano, em que esqueci a data, completei dezessete anos de redação.
Dezessete anos perseguindo vírgulas e pontos fora de lugar; Dezessete anos atrás de acentos fujões e ignorâncias ortográficas e gramaticais infiltradas, agentes a serviço do mau texto; Dezessete anos vendo o mundo passar nas agências de notícias (pra vocês terem uma idéia de quanto tempo é isso, quando eu comecei elas ainda enviavam telex).
Será o caso de comemorar?