domingo, julho 30, 2006

Santa de portas abertas


Ontem teve Santa de Portas Abertas, o dia em que todos os artistas de Santa Tereza abrem as portas de suas casas e ateliês. É meio esquisito entender que, num mundo em que as pessoas têm cada vez mais medo dos estranhos, e as casas mais medo da rua, ainda possa existir um bairro que abra as portas a gente totalmente desconhecida.

Até os apartamentos entraram no roteiro. “O que é que tem lá?”, pergunto eu ao porteiro de um prédio onde tem uma bandeirinha indicando que ali tem porta aberta. “Diz que é pintura a óleo. Acho que é óleo, né? Não entendo bem desse negócio não”, ele responde, apontando o caminho para o elevador. Subimos, olhamos as aquarelas (não, não era óleo...) e, da janela da moça, ficamos observando o zanzar das pessoas pelas ruas de Santa. Um quê de festival, de quermesse, de carnaval. Como se, com o movimento, o bairro ganhasse alma.

Pra quem não conhece, Santa Tereza está longe de ser um exemplo de tranqüilidade. Fica grudada no centro do Rio e está rodeada por favelas. Volta e meia tem caso de assalto por lá. Mas ainda assim os moradores mostram que não se rendem e que querem, muito pelo contrário, resgatar o velho e bom espírito da vila do interior, onde o vizinho batia na porta do outro para pedir açúcar, para oferecer bolo, para pedir que o outro desse uma olhadinha na porta enquanto ele descia até a padaria. Acho que portões - e vizinhos - abertos é o que dá alma a um bairro.

Nenhum comentário: