quarta-feira, julho 19, 2006

Os amigos da baronesa

Nos anos 60, as casas da lagoa eram muito mais numerosas. Pelo menos outros 10 mil vizinhos moravam por aqui, na encosta do morro onde fica hoje o Parque da Catacumba. Dizem que tudo começou no início do século XX, quando a baronesa da Lagoa Rodrigo de Freitas deixou suas terras para os ex-escravos.

Com o tempo, ex-escravo foi virando novo pobre, e as terras da baronesa foram virando favela. Para quem quiser ver uma foto daquela época, tem uma ótima na página do Zé Lobato no Flickr: flickr.com/photos/ze_lobato/149803889/

E pra quem quiser ler mais sobre a história da favela da Catacumba: http://www.favelatemmemoria.com.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/

O fato é que em 1970 o governo decidiu que os amigos da baronesa eram pobres demais para terem o privilégio da vista para a lagoa. Passou o rodo na área, mandou a galera pra casa do chapéu e enfeitou aquele canto da lagoa com prédios de luxo.

O plano de trocar as casas da lagoa pelas casas do chapéu parecia perfeito. Remover (detesto esse termo) os moradores e colocá-los em conjuntos habitacionais construídos na zona Oeste, que na época era um total vazio. Batizar com um nome bonito (tipo... Cidade de Deus?) e pronto! Golpe de mestre.

Só faltou lembrar de um detalhe: para viver, aquelas pessoas precisavam mais do que casas; precisavam de trabalho, o que obviamente não existia na área das casas do chapéu – assim como também não existia infra-estrutura para que a região prosperasse, nem transporte para trazer os trabalhadores até seus antigos empregos na zona Sul. Taí o resultado: Cidade de Deus virou um dos maiores desastres sociais do Rio de Janeiro e um dos maiores quartéis do tráfico de drogas.

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