sábado, setembro 29, 2007

Segredos Cariocas - Praça São Salvador

A diva grega de cabeça laureada e formas roliças segura o jarro virado de onde não pinga uma gota. Mesmo assim, a diva olha para baixo, como se contasse as latinhas, copos plásticos, pratinhos de papelão jogados na fonte seca que adorna. Por sorte, seu olhar pende para a direita. Se olhasse para a esquerda, veria o menininho de seus três anos, gorro da Nike enterrado na cabeça, mini-calça de rapper pelo joelho, a aguar-lhe o cimento do pedestal enquanto alivia a bexiga. Azar danado o da diva. Tivesse antes sido imortalizada olhando para cima, estaria agora a contemplar a lua cheia em lugar dos restos da civilização fast-tudo na fonte seca.
Pelo menos de uma coisa não pode ela se queixar. A praça São Salvador, onde foi dignamente instalada, nas Laranjeiras, tem um charme especial. Todo último sábado do mês, um grupo de músicos se reúne sob a lua para tocar velhos sambas. É a turma do Bagunça Meu Coreto, um bloco que se apresenta de graça para os cerca de 100 (talvez 200 , mas não muito mais) cariocas que conhecem o segredo. E também para a diva grega de formas roliças...

sábado, setembro 22, 2007

Longe de você...

...são dois os caminhos do tempo. As horas ocupadas são imensas planícies, esteiras rolantes de aeroporto que me carregam em velocidade acelerada sem tempo para pensar sentir respirar... apenas o "mind the step" soando no oco do cérebro...

Entre cada esteira, porém...

...tropeço nos minutos espalhados pelo chão, que se aglomeram em montanhas de horas livres e me exigem esforço, subindo aos poucos, escorregando, suando para chegar até a próxima esteira rolante.

Aos poucos

Que têm estranhado a falta de movimento nesta casa, vai uma explicação. A culpa é do Velox, meu provedor de internet, desaparecido desde o dia 27 de agosto. Saiu, assim como quem vai comprar um cigarro, e nunca mais voltou. Já acionei a Anatel que iniciou uma busca, mas até agora nada. O próximo passo é colocar uma fotinho no recibo do pedágio.

sexta-feira, setembro 14, 2007

Eu tenho valor! E você, Senador???

Liberdade, igualdade, solidariedade, respeito, cidadania, altruísmo, honestidade, tolerância, justiça... Lembramos aos senadores e a todos aqueles que, graças aos nossos votos, ganharam uma cadeira nas assembléias e executivas desse país, que nós ainda temos e valorizamos tudo isso. E exigimos que, como nossos representantes, eles zelem por esses valores em cada um de seus atos políticos.

quarta-feira, setembro 12, 2007

Quais são os seus valores?


Poderia escrever linhas e mais linhas tentando extravasar a decepção que estou sentindo com relação ao senado do nosso país. Mas de repente caiu a ficha de que nossas linhas há muito já não são lidas por aqueles que teoricamente estão nos representando lá em Brasília.


Poderia buscar na justiça meios para deslegitimar a votação de hoje, articulada de forma covarde nos bastidores. Mas de repente caiu a ficha de que há muito que o poder fez "uns mais iguais que os outros", e colocou-os confortavelmente dentro de uma caixa blindada onde as leis dos comuns não conseguem entrar.


Poderia esperar as próximas eleições e votar nulo para o senado, em protesto a cada um dos 40 senadores que votaram a favor da corrupção, do descaso, da falta de ética e de tudo o mais que Renan Calheiros representa. Mas de repente caiu a ficha de que até lá a memória de muitos brasileiros já vai estar apagada, e a força do marketing, a força do dinheiro e a força do hábito (!) vão nos fazer ir às urnas, como bobos da corte, abençoar os mesmos nomes e os mesmos vícios.


Então como protestar num país em que as palavras não valem, as leis não valem, os votos não valem?


Aqui vai minha sugestão para um protesto internético, acreditando na força das imagens, das redes e sobretudo dos valores humanos que existem (mesmo que às vezes adormecidos) dentro de cada um de nós:


1. Pergunte-se, pergunte-se, pergunte-se: Quais são os seus valores??????????????


2. Saia de preto amanhã, em luto por todos os valores que estão morrendo em nosso país. E escreva uma frase de protesto num lugar onde possa ser visto pelo maior número de pessoas. Na roupa, no carro, na janela de casa, na tela do seu computador, na mesa de trabalho, no Cristo Redentor! Se alguém quiser uma sugestão, a minha será: "Eu tenho valor! E você, senador?"


3. Fotografe o seu protesto e coloque as imagens na internet, usando youtube, email, blogs e todos os outros meios que possam levar nossa mensagem pelo mundo.


4. Repasse as mensagens que receber de outros. Faça circular!


Em algum momento alguma das nossas mensagens vai chegar na tela de alguém que está precisando refletir sobre isso! Se ela mudar de atitude, já será uma grande vitória.

Sobre dias que fazem história

Um dia histórico é aquele fica marcado na memória das pessoas a ponto de, anos depois, elas ainda se recordarem do que estavam fazendo quando aquele fato ocorreu. Eu me lembro de assistir, quando criança, às minhas tias em volta daquela mesa da casa da minha avó recordando o que estavam fazendo quando Getúlio Vargas deu um tiro no peito, ou como haviam recebido a notícia do assassinato de John Kennedy nos Estados Unidos. Era um espanto para mim: como elas eram capazes de recordar em detalhes o que faziam num tempo em que eu nem havia nascido?
Só fui entender isso quando os fanáticos da Al Qaeda colocaram Lee Oswald na pré-história dos atentados, com o ataque ao WTC. Eu dirigia Rua Luminárias acima, na Vila Madalena, em São Paulo, quando meu celular tocou e uma amiga deu a notícia de que um avião havia batido numa das torres. Tive uma reação semelhante à do Bush diante da cartilha da primeira série (quem assistiu Farenheit 911 deve se lembrar). Meio atônito, fiquei imaginando se teria sido um acidente? Diante da notícia do segundo choque, que recebi já na redação, as dúvidas se acabaram... Esses episódios mostram que, quanto mais inesperado o fato, maior a chance de se transformar em algo realmente histórico, que marque aquele dia na memória de todo mundo.
Todas essas digressões são só para dizer que a absolvição de Renan Calheiros pelos colegas, ontem, não será um desses dias históricos. Ou alguém realmente esperava que ele fosse caçado? Para quem não tem boa memória (ou idade para se lembrar), Renan foi da tropa de choque de Fernando Collor no Congresso, quando era o próprio Boi Gordo (devido ao peso excessivo) e ficou no barco do ex-presidente, junto com Roberto Jefferson, até a retirada pela porta dos fundos. Como sei que daqui a um mês não me lembrarei do que estava fazendo enquanto o Senado assava a pizza, decidi deixar devidamente registrado neste blog: recebi a notícia da absolvição do nobre senador quando pagava, pela internet, os impostos federais da minha humilde empresa.
Como diriam lá no lugar onde eu trabalho, em coro de arquibancada: "Chupa Ferdi!!!!"

Férias

Ela disse, num comentário ao post anterior: "Tem gente que acha que tirar férias é desculpa pra abandonar o diário virtual. Às favas! Vai numa lan house, se vira! Saudade! :*
O problema, hoje em dia, deixou de ser uma lan house por perto. Até meus pais têm roteador wireless com internet de alta velocidade em sua pacata casinha na praia deserta do litoral sul de São Paulo. E quando se juntam todos os filhos, como aconteceu no último feriado, fica cada num canto, mudo diante de uma telinha particular de 14 polegadas.
Briga pelo computador? Não na era dos notebooks. O máximo que poderia acontecer era uma disputa pelos adaptadores para plugs de três pinos. Como a casa tem 22 anos, as tomadas não estão prontas para os computadores. Problema, porém, com os dias contados. Já entrou na pauta da próxima reforma.
Não faz muitos anos eu estava na faculdade de jornalismo às voltas com as teorias do McLuhan sobre a Aldeia Global e suas implicações inversas. Ao mesmo tempo em que permitia ao mundo todo se comunicar quase instantaneamente , a tevê minava a comunicação direta. Diante do tubo catódico, providencialmente instalado em lugar privilegiado da casa, a família deixava de se relacionar. Sem contato, sem conversas, sem convivência, seus membros perdiam os vínculos entre si.
O que pensar, então, desta nova era? Onde cada um tem seu monitor próprio e ainda por cima pode escolher e interagir com a programação que lhe é apresentada? Até aquela negociação sobre qual programa será exibido, muitas vezes o principal momento de contato entre os telespectadores da mesma família, se tornou desnecessária.
Será que posso me considerar em férias quando carrego meu computador com tudo o que precisaria no trabalho para a praia deserta? Será que estou em férias se continuo acessando meu webmail graças à facilidade da internet rápida?
Resolvi, então, entrar em férias de verdade. Com saudades da cozinha da minha avó, que tinha uma mesa enorme em torno da qual sentavam-se minhas tias para bordar, cozinhar ou simplesmente conversar sobre a vida, decidi manter o notebook desligado.
Mas, como vocês podem ver, minha força de caráter só durou três dias.

quinta-feira, setembro 06, 2007

Quando a gente menos espera...

Dá de cara com a violência dos noticiários. O meu encontro foi só um susto, uma fração de segundos. Saía de táxi do local onde trabalho com destino à rodoviária. Passavam dez minutos das onze da noite. O táxi dobrou a esquina, eu notei um carro de polícia parado, todo apagado, um policial militar de cada lado da rua, fuzis nas mãos.
Vi quando o PM à minha direita abanou o braço direito dando sinal para o táxi parar, notei o motorista começando a acelerar, sem perceber o sinal. O PM se assustou e já começou a apontar o fuzil. Eu gritei:
- Pára aí, irmão, ele tá mandando parar.
O motorista, que estava desatento, meteu o pé no freio e acendeu a luz interna do carro, bem a tempo de parar a minha cabeça na mira do cano do PM.
- Que é isso irmão? Tá maluco? - mandou o meganha.
- É do diário LANCE!, foi mal. Não tinha visto você aí.
- Precisa colaborar com o trabalho da gente, irmão. Quer tomar um tiro?
E nos liberou. Fiquei imaginando o que teria acontecido se eu estivesse cochilando no banco direito, como quase sempre acontece quando volto do fechamento.

Diálogos Furtados

A menina conversa com a mãe e a irmã menor no dia do aniversário:
Menina (oito anos, voz triste): - Mamãe, fiquei com pena que o vovô não está mais aqui para me dar parabéns.
Irmãzinha (cinco anos, tentando animar a irmã): - Ah, não tem problema, Bia. Ele está de dando os parabéns lá do céu.
Menina: - Mas eu fiquei com saudades dele.
Irmãzinha: - Quando você morrer, você vai encontrar ele lá no céu.
Menina: - Credo, que coisa de horrível!
Irmãzinha: - É verdade, né mamãe? Todo mundo vai morrer. E aí a gente vai se encontrar e vai ser uma grande festa lá no céu.