quarta-feira, outubro 31, 2007

Diálogos Roubados IV

Academia, à beira da piscina, uma aluna conversa com a professora:
Aluna: - Vai ter o aulão de hidro no sábado?
Professora: - Não, foi remarcado porque o vestiário está em obras.
Aluna: - Que sacanagem! Eu estava contando com o aulão...
Professora: - Foi remaracado para o dia 10.
Aluna: - Ah, dia 10 eu não posso, vou viajar no feriado.
Professora: - Mas o feriado não é no dia 15?
Aluna: - É, mas nós vamos emendar desde o dia 10.

*****
Final da aula, no mesmo dia, a mesma aluna comenta enquanto se alonga:
Aluna: - Será que eu vou trabalhar hoje, com essa confusão do Rebouças?
Aluna2: - Mas você não trabalha no Centro? Vai de metrô que não tem confusão.
Aluna: - Metrô que nada. Acho que vou aproveitar a desculpa pra não aparecer.

Alguém advinha o que ela faz? Não? Então eu conto: é juíza estadual.

terça-feira, outubro 30, 2007

O desabamento do Rebouças

Ele estava na origem deste blog, citado no post de inauguração como caminho mágico que separa o Rio dos sonhos do Rio da miséria. Mas acho que quando o mencionei, eu não tinha me dado conta da importância real do túnel Rebouças para a ligação da cidade partida. Desde que um vazamento misterioso fechou com terra a boca das duas galerias entre o Cosme Velho e a Lagoa, o trânsito do Rio virou um caos só comparável à rotina do trânsito de São Paulo. (Os amigos paulistas me desculpem, mas como nativo da Terra da Garoa, dou-me o direito de criticá-la no que tem de pior.)
Os 190 mil veículos que diariamente cruzavam pelos 5.600 metros de galerias escavadas na rocha do Maciço da Carioca tentaram achar caminho pelas ruas estreitas e já afogadas de Botafogo, Laranjeiras, Flamengo, etc. A cidade entupiu e até a aprazível Fonte da Saudade, que passa aqui na porta, enfrentou congestionamentos que duravam até 22h.
Felizmente, as autoridades prometem reabrir totalmente, amanhã, o velho túnel mandado construir por Carlos Lacerda, que este mês, curiosamente, completou 40 anos de existência.

quarta-feira, outubro 10, 2007

Tropa de Elite


Assistir ao filme título deste post no Rio é diferente de assisti-lo em qualquer outro lugar da cidade. Aqui, a platéia se reconhece em cada esquina de Copacabana, em cada desleixo das personagens policiais, em cada viatura esculachada que aparece na oficina do Aspira. Tropa de Elite, antes de ser um filme brasileiro, é um filme carioca.
Aconteceram por aqui casos em que a platéia aplaudia cenas de tortura e de assassinato de bandidos. E aplaudia ferozmente a cena em que o estudante playboy, traficante da faculdade, apanha de um dos policiais. Na sala em que eu assisti, a platéia era silenciosa.
Já ouvi todo tipo de comentário e o mais comum é de que o filme é facista, defensor da violência policial. Acho que quem chegou a essa conclusão caiu na armadilha mais óbvia do filme: ele é narrado por um policial que, portanto, não tem uma visão tão crítica da instituição. O cara faz parte dela.
O que as pessoas não percebem é que, embora diga o tempo todo que o Bope é a melhor polícia do mundo, com critérios de seleção mais rigorosos que o do Exército de Israel, um batalhão onde não existe corrupção, o capitão Nascimento quer deixar a tropa. E o filme mostra, nas cenas cruas de assassinato e tortura de inocentes, porque ele quer sair da corporação. Nascimento vai ter um filho e quer voltar a ser humano.
A impressão que dá é que, embora adotem o discurso de que as atitudes do Bope são um absurdo, as pessoas não conseguem enxergar a crítica velada que o filme faz a elas porque, inconscientemente, concordam com esse modo de operação. São vítimas de uma herança do modelo punitivo de estado colonial, onde os ricos podiam tudo e aos pobres restavam os chicotes da senzala.
A mensagem principal que o filme deixou para mim foi de que nunca vamos resolver a questão da violência, no Rio ou no Brasil, se continuarmos apelando para mais violência. Esse caminho, adotado pelos homens de preto, expulsa da instituição todos que ainda têm algum sentimento humano dentro de si, mesmo que pequeno. Só restam os brutos e os selvagens dentro das fardas. E esses não servem para resolver nada.
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O mais triste de tudo foi constatar que, nos Estados Unidos, os roteiristas quebram a cabeça inventando perseguições mirabolantes, terroristas caricatos e toda sorte de maluquices para criar cenas de ação. Aqui, a gente só usa a realidade.

sexta-feira, outubro 05, 2007

Sinuca na Lapa

A tevê a gritar geniais idéias das cabeças brilhantes do futebol; na mesa ao lado, o casal a namorar sem notá-la, sozinha, olho pregado no celular, observada de longe pelo garçom, sem graça com aquela solidão explícita, a aproximar-se de quando em quando para perguntar deseja algo? Não obrigado, espero uma pessoa. Que nunca chega para cessar esse constrangimento que observo do mezanino, pendurado no taco de sinuca, a desenvolver a seguinte filosofia de mesa de bilhar: Nunca estivemos tão sós no meio de tanta gente. Será que foi geração espontânea? Ou terei lido isso em algum lugar? Dou de ombros. Chegou minha vez de jogar e desvio minha atenção para as bolas coloridas da mesa.

quinta-feira, outubro 04, 2007

No caminho tinha uma praça

Saí de uma reunião de trabalho às 16:30 e tinha um compromisso às 18:00. Inevitavelmente comecei a calcular o que faria nesse intervalo. Lembrei dos emails que tinha que mandar, das coisas que precisava comprar, dos telefonemas que tinha que fazer, do relatório que estava atrasado... Ao final decidi ir a um cibercafe cuidar dos emails.

Mas no caminho tinha uma praça.

Um praça tijucana totalmente desconhecida para mim. Cheia de crianças brincando, árvores altas, velhinhos jogando dama e bancos, muitos bancos. Pára tudo, pensei. Ou, como disse uma vez meu poetinha, pára o mundo que eu quero descer. Deixei os emails pra depois e me sentei em frente ao balanço.

Meia hora no banco da praça foi o presente do meu eu zen pro meu eu sem-(tempo) (sempre sem-tempo!). Tirei os sapatos, deitei. Fiquei ouvindo o barulho esquisito das pombas, vendo as miúdas flores amarelas anunciarem a primavera, a vendedora de algodão doce, o sorveteiro curioso passando para ver o que eu rabiscava, as crianças de volta da escola, as meninas jogando vôlei numa roda sem jeito, as crianças no balanço... Ai, como eu gostava de um balanço... E que nostalgia me deu o grunhido da corrente enferrujada a cada balançar.

E se eu tivesse ido ao cibercafe? O tempo passaria voando e eu provavelmente sairia com a sensação de que não foi o suficiente para todos os meus emails. Lá se ia o dia sem ter sido vivido! Acho que os 30 minutos que passei na praça foram os mais bem aproveitados do meu dia. Deixei de ser refém do tempo para escolher o que fazer com ele. E me senti mais viva do que nunca!

Estou lançando a campanha: Dê 30 minutinhos de praça ao seu dia!