segunda-feira, abril 30, 2007

Tradução no metrô

Debaixo da terra, viajando em direção aos deliciosos doces da Colombo, minha cunhada e meu irmão (ambos paulistas em visita de feriado), pedem ajuda:
- Traduz pra gente, por favor: "Pancadão faz a Barra rebolar até o chão".
A frase estapmpava um jornal popular que um velhinho folheava. Alguém se aventura a traduzir?

sábado, abril 28, 2007

Poluição companheira

No meio do caminho entre o meu trabalho e o meu local preferido de almoço ficam os Correios. Não uma agência qualquer, mas a central, aquele prédio imenso na Avenida Presidente Vargas por onde passam todas as cartas postadas no Brasil. Por mais estranho que pareça, é verdade. Se um morador de Salvador escreve para um parente em Recife, a carta vem para o Rio e volta para Recife. Mistérios do Brasil...
Por conta desse volume gigantesco de envelopes, o prédio é enorme, cheio de funcionários e ponto obrigatório para todas as chapas quando tem eleição no sindicato. Desde o fim de março, com os carteiros em campanha sindical, todos os dias tinha um carro de som poluindo o caminho entre o meu trabalho e o meu almoço. Era a companheirada apontando erros e desmandos da companheirada nem tão companheira assim, que competia pela outra chapa. Como eram três chapas, não havia um dia sequer em que eu pudesse ir para o almoço livre da gritaria.
Esta semana, porém, quando passava pela calçada vi a companheirada reunida na frente do carro de som, posando para uma foto de confraternização. Aproveitei a oportunidade:
- Já foi a eleição?
- Já companheiro, terminou. Ganhamos! - respondeu efusivo um senhor de meia idade, adesivo da Chapa 2 no peito, que foi logo me abraçando.
- Poxa companheiro, estou muito feliz por vocês. Muito mesmo. E também porque agora vou passar dois anos podendo ir para o meu almoço0 sem ficar surdo com os caminhões de som de vocês - respondi, sem tirar o sorisso do rosto. O companheiro também não perdeu o rebolado:
- É companheiro, campanha é fogo, né. Mas acabou, companheiro, acabou! Vencemos!

domingo, abril 22, 2007

Agora o Rio está perfeito

Logo na minha primeira semana no Rio inventei uma piada que usava para provocar os naturais da Guanabara. Dizia que havia sido exposto à primeira situação de violência carioca: um rodízio de pizzas. A piada era baseada em fatos reais. Na minha primeira semana, sem conhecer nada da cidade, inventei de comer uma pizza no Largo do Machado. Fui bater numa pizzaria, 10 da noite, e na porta o garçom foi logo perguntando:
- Rodízio ou quilo?
Eu só queria comer uma pizza, de preferência uma média.
- Não temos essa opção. Ou o senhor vai no rodízio, ou vai na comida a quilo do buffet.
Buffet às 10 noite? Achei arriscado. Seria melhor encarar o rodízio, pensei. Errei feio. As pizzas, que já não são uma especialidade nesta parte tropical do país, pioram muito nos vários rodízios em que são servidas em quantidade inversamente proporcional à qualidade.
Era um tal de pizza de carne moída, pizza de jabá com jerimum, pizza mexicana, numa lista pra lá de heterodoxa que incluía ainda, entre os sabores doces, pizza de brigadeiro, de prestígio, de confete, de mousse de maracujá!!!! Definitivamente, uma violência.
Os cariocas não gostavam muito da minha piada e acabei por aponsetá-la. Agora, porém, eles podem entender o meu mau humor com aqueles discos de massa do Largo do Machado. Porque abriu no Rio, bem ao lado da minha casa, no Jardim Botânico, uma filial da Bráz. Provei ontem. Que maravilha. Agora, o Rio está perfeito. Já tem a velha e saborosa pizza paulistana.

terça-feira, abril 17, 2007

O órfão do Pé de Maracujá

Voltando da natação agora há pouco, parei para olhar o morimbundo pé de maracujá do post anterior e, para minha surpresa, notei um filhote órfão da planta, menorzinho, crescendo no fio parelelo àquele onde a planta maior já está completamente morta. Fiquei ali parado, imaginando como os agentes com licença para podar da companhia de luz haviam deixado aquele menor escapar. Notando meu interesse, um taxista do ponto explicou:
- Esse aí tá no fio de telefone.
Como?
- Esse aí, menorzinho, tá no fio de telefone. O pessoal da Light não mexeu com ele porque é problema da Telemar.
Nessas pequenas bobagens a gente entende por que o Brasil não consegue decolar. Apesar de criativo, o povo se deixa emparedar pela burocracia, prima-irmão da preguiça. Tá certo. Se as ordens eram para podar apenas o pé de maracujá da fiação de luz, porque ele mexeria com o da rede de telefone, não é mesmo?

sexta-feira, abril 13, 2007

O pé de maracujá

Ele começou tímido, insinuando-se por um poste. Como ninguém o notava, ganhou confiança e se desenvolveu. Quando finalmente perceberam sua existência, já fazia a alegria dos taxistas da rua Sacopã, na Fonte da Saudade, com seus frutos doces. Emoldurava a entrada da rua, garbosamente pendurado nos fios da rede elétrica que a cruzavam. Foi esse seu erro.
Depois de um verão extremamente seco, veio uma chuva forte. Molhado, mais pesado e sacudido pelo vento, ele provocou panes que alertaram a central. A Light, então, enviou seus agentes com licença para podar. Impiedosos, eles o cortaram pela raiz.
Desde então, o pé de maracujá da Rua Sacopã agoniza lentamente, secando aos poucos, em plena praça pública.

quarta-feira, abril 11, 2007

Outono tropical

Então o tempo passou, o clima mudou e as árvores choram suas primeiras folhas ( lágrimas de cobre de pura manha, pois sabem que jamais chorarão todas). Malhas finas desfilam pelas ruas, abrindo as portas dos armários para pesados casacos novaiorquinos/londrinos/parisienses que em breve serão libertados dos cabides (mais pela saudade das viagens do que por necessidade).
As noites já não são mais tão quentes (pelo menos as longas pernas estão de volta, aquecendo-me sob a mantinha etíope, em suas batalhas noturnas inconscientes para me expulsar da enseada tranquila da cama) e quando amanhece, o céu é de um azul contido. O sol, esse continua brilhando pendurado em algum canto. E me faz lembrar de que já não me lembro da última vez em que vi o mar.

segunda-feira, abril 09, 2007

Monólogo Furtado

Linha 157 Central-Gávea, sentido bairro. A porta de trás abre e o homem carregado de caixas sobe, caminha até a catraca, e desembesta a falar:

- Em primeiro lugar, desculpe por incomodar o silêncio da sua viagem. É que eu estou aqui hoje para oferecer as deliciosas barrinhas Maxi Goiabinha. A qualidade é da Bauduco, que o senhor e a senhora já conhecem, não preciso explicar. Temos aqui para oferecer a barrinha nos sabores Maxi Goiabinha, que é tradicional, Maxi Chocolate e a última novidade, Maxi Chococo, que é uma barra de chocolate com recheio de coco. Nas Lojas Americanas ou em qualquer outro lugar o senhor, a senhora vai pagar oitenta centavos ou um real. Aqui na minha mão, uma barrinha sai por sessenta centavos, dua por um real. Está dentro da validade, pode olhar no verso, é outubro de 2007. Vocês devem estar se perguntando como o preço pode ser tão baixo, não é mesmo? Não tem segredo não, tá gente. É carga tombada mesmo. Quem vai querer? Uma é sessenta, duas por um real...

terça-feira, abril 03, 2007

Diálogos furtados

Na Praça dos Bebês, na Lagoa, enquanto espero o ônibus para o trabalho:

(Babá 1) - Óxente, não agüento mais correr atrás dele. Não tem sussego esse muleque!
(Babá 2) - Tu vai embora, Lucinéte?
(Babá 1) - Vô não, vô só dá água a ele. (Dirigindo-se ao menino de uns 3 anos). Vem cá Gordo, toma água, que é pra vê se passa o soluço, toma.
(Babá 3, cuidando de uma menininha num carrinho, possivelmente irmã do "Gordo") - Óh Lucinéte, acho que já deu a hora de ir.
(Babá 1) - Óxente, Deia. Que horas são?
(Babá 3) - Já é quase onze, já.
(Babá 1) - E tu sabe como? Num tem relógio?
(Eu) - Dez e vinte.
(Babá 3) - Comé?
(Eu) - São dez e vinte. As horas.
(Babá 1) - Vixe, Deia, que aperreio. Olhe, já pensou se nós chega antes da hora lá? Patroa dá a luz!
(Babá 3) - Deus me livre, Lucinéte. Vai ser mais um pra gente cuidar!

Gargalhada geral. Chega o ônibus.

Pequenas provas de que o mundo está perdido

(Garimpadas em colunas recentes do Ancelmo Góis, em O Globo)

- A Assembléia Legislativa do Rio decidiu reformar a fachada do prédio anexo. Vai trocar as placas de alumínio do projeto original por pedras. Motivo: gatunos roubaram as placas para vender como sucata. Em pleno centro da cidade.
- Os 1.200 alunos de uma escola municipal da Rocinha ficaram sem aulas o mês de março inteiro. Motivo: um vazamento de esgoto das moradias em volta desembocava dentro das salas de aula, tornando insuportável a permanência no local. Como a prefeitura demorava a tomar providências, os traficantes baixaram a ordem: os moradores tinham um fim de semana para desentupir os canos e limpar a escola, ou seriam mortos. Na segunda-feira seguinte, as aulas recomeçaram.
- Uma passageira da linha 464 Leblon-Maracanã foi assaltada dentro do ônibus na última sexta-feira, por volta de 14h. Os ladrões eram três velhinhos bem vestidos, aparentando por volta de 70 anos de idade.
- Uma aluna da UniverCidade, no Rio, fez a seguinte pergunta durante uma aula de história do Brasil: "Professora, por que o Tancredo Neves deu o golpe de 1964?"