quarta-feira, agosto 08, 2007

Máscaras de oxigênio cairão sobre suas cabeças

Talvez porque tenha começado a voar muito cedo, com meu pai, jamais tive medo de avião. Monomotor em garimpo, bimotor em tempestade amazônica, turbo-hélice no interior do Paraná, Boeing, MD-11, A320... Só não voei de asa-delta até hoje, porque não tem motor. E sempre desdenhei a quem confessava insegurança, exibindos aqueles argumentos de prateleira: "atravessar a rua é mais perigoso, você tem mais chances de morrer de câncer de pele, etc.".
Na última terça, passei pelos escombros do prédio implodido quando chegava a Congonhas para tomar mais uma ponte-aérea. Fiquei lembrando daquela montanha de entulho no saguão vazio do aeroporto, onde fiz meu check-in sem fila pela primeira vez em anos. Embarquei no horário, sem atrasos, e já dentro do avião, tive vontade de perguntar à gentil comissária que exibia seus gestos ensaiados antes da decolagem:
- Pra que esse circo todo, com máscaras fictícias, portas de emergência sobre as asas e cinto de segurança? Nada disso vai funcionar se esta geringonça cair...
De repente, dei-me conta da fragilidade da situação. E pela primeira vez senti medo dentro de um avião.

8 comentários:

Sharon disse...

vai ver só... vai ganhar um abraaaaço! hahaha

sobre os aviões... eles fazem parada no graal? de ônibus é mais legal ;)

Anônimo disse...

Quem passou em frente aos escombros dias depois do acidente entende o seu medo - a cena é deprimente.
E por falar nisso, fiquei orgulhosa em vê-lo mais uma vez no Roda Viva esta semana. Na parte que eu assisti, vc foi muito bem!

Anônimo disse...

No curso de comissária eu tive aula de sobrevivência na selva. O soldado, muito simpático, disse: "Esta aula não serve pra nada. Afinal, caiu não sobra nada. Mas é um curso obrigatório!". Foi um alento ouvir aquela frase.

Anônimo disse...

Ferdi,

Vi um comentário teu no site da Vivi e achei sensacional esse papo de equipe de logística.

Assim como você comecei a voar cedo, não em tantos tipos, mas porque meu pai era transferido de cidade e ficavamos indo e vindo de São Paulo para ver a família.

Também não tinha medo de voar, mas, confesso, cancelei uma viagem de férias para Recife. Tenho a filhota para me preocupar.

Beijos

Si

Marina disse...

Eu tenho medinho de decolagem. Talvez porque o desconhecido gere medo, e eu não conheço o funcionamento de um avião. Não entendo, por mais que me expliquem sobre aerodinâmica, como aquele bicho sai do chão. Mas, apesar do medinho, eu nunca evitei pegar um avião, porque simplesmente amo viajar. Por conta dos episódios recentes, o medinho anda ensaiando virar medo.

Don Rodrigone disse...

concordo com a sharon... se tivesse parada no Graal, os vôos seriam bem mais interessantes, talvez menos amedrontadores...

Andréa disse...

Eu não tinha medo de avião. Depois desse desastre da Tam (que nem aconteceu no ar, mas no chão mesmo), fiquei triste e apreensiva. Não sei como vou reagir na minha próxima viagem. Espero que bem. Lindo texto.

Unknown disse...

Ferdi,

Sei o que vc sentiu, porque as lembranças daquele trecho de avenida remontam nossa infância sob os aviões a caminho da casa de nossos avós aos domingos... Jamais pensei que um dia veria a nossa avenida destruída pelo fogo e pelo desespero de milhões de brasileiros que choraram junto com os familiares das vítimas.Tenho medo de avião desde que me tornei mãe e depois do acidente senti-me ainda mais fragilizada...
Grande beijo
Nan