sexta-feira, junho 29, 2007

Gente invisível

Você já parou para pensar na quantidade de gente invisível que atravessa o seu caminho durante um dia? Essas pessoas com quem cruzamos na rua, dividimos o banco do ônibus ou o ambiente do trabalho e nem notamos? Há casos extremos em que elas freqüentam nossas casas (para fazer serviços que nossos bacharelados rejeitam) sem que lhes dispensemos dois minutos de conversa. É uma forma de violência.
Eu procuro sempre notar as pessoas invisíveis. Os seguranças da rua onde moram, por exemplo, espantavam-se quando eu passava por eles dando bom dia. Agora já se acostumaram e quando me vêem, cumprimentam antes. Os motoristas da linha 110, que tomo todos os dias, me olhavam como um ET no começo, quando eu subia no ônibus cumprimentando. Agora também já me conhecem e algumas vezes esperam no ponto, quando vêem que estou chegando.
Quanto mais gentileza genuína distribuímos, mais gentileza recebemos de volta. É um círculo virtuoso. Aprendi isso com os meus pais, que sempre valorizaram as pessoas pelo que elas são e não pelo que têm ou pela grife que usam. E eles nunca precisaram me dar uma aula sobre o assunto. Aprendi pelo exemplo, porque eles agiam assim.
Todo mundo, por mais simples que seja, tem uma história para contar e algo de sua experiência de vida para ensinar. Precisamos recuperar a capacidade de valorizar isso. Para evitar, no futuro, que mais monstros bem nascidos se achem no direito de espancar outro ser humano (que para eles não significava nada, era apenas uma empregada doméstica) num ponto de ônibus na Barra da Tijuca.

3 comentários:

Sharon disse...

a palavra pra tudo isso é AHIMSA.
não-violência.

odeio violência.
me encanto com as gentilezas.

próxima vez que for ao rio, levo presente pra vc e pri :-)
:*

Marina disse...

Tem um trabalho muito interessante - virou livro -- de um psicólogo que estudava na USP e resolver passar alguns meses trabalhando de gari na mesma faculdade que frequentava como aluno. Atravessava os corredores, cruzava com colegas e professores, mas, só porque usava o uniforme laranja, não era reconhecido nem cumprimentado. Virou invisível. Ele também analisou o comportamento dos próprios garis que trabalhavam ao seu lado. A maioria tinha problemas para olhar nos olhos das pessoas, de aceitar um sorriso, um "bom dia", porque, depois te tantos anos sendo tratados assim, eles se achavam realmente invisíveis, insignificantes, menores. Concordo com vc, Ferdi, em tudo que falou, e também tento ser gentil com todos, independente do que a pessoa faz ou tem.

Anônimo disse...

Eu já tinha ouvido falar sobre esse estudo da USP, inclusive utilizei como exemplo em uma palestra minha no centro espírita. Acredito que essa "invisibilidade" é mais grave nas grandes cidades. Lembro quando estive com uns amigos na pequena Lambari, Sul de Minas. A gente se divertia andando de carro e observando as pessoas muito simples, sentadas nas calçadas, observando os que passavam. Então, de dentro do carro nós cumprimentávamos: "tarrrrdeeeeeee!" e eles sempre respondiam da mesma forma, levantando o chapéu, eheheheh. Cena impensável na cidade grande...