sábado, maio 05, 2007

Proibido Proibir

O título do mais recente filme do chileno Jorge Durán remete a uma produção de época, ambientada nos tempos duros da ditadura militar. Talvez tenha sido proposital. A história de Proibido Proibir retrata abusos de autoridades policiais corruptas contra jovens, mas desta vez no Rio de Janeiro conflagrado dos dias de hoje. Os jovens também não são tão idealistas como os da luta armada dos anos 70.
Pra quem se interessar, faço abaixo uma longa resenha. Mas a razão principal deste post não é falar dos erros e acertos do filme e sim de uma situação emblemática que surge na tela (e que está exposta na foto acima). Num determinado momento da trama, policiais matadores perseguem inocentes numa favela. Os atores contracenam vestidos com fardas oficiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro e usam, inclusive, uma viatura real no momento em que levam as vítimas para uma execução num lixão.
Pode ser que eu esteja enganado, mas não me lembro da Polícia Militar de algum outro Estado permitir o uso de fardas ou viaturas oficiais em sets de filmagens, nem quando a trama, em tese, era neutra à corporação. Muito menos quando retratava situações desfavoráveis à imagem da instituição, como é o caso em Proibido Proibir.
O fato de a PM do Rio permitir isso mostra que nem a alta cúpula se preocupa com a imagem da corporação. O que ajuda a entender a situação de descalabro em que se encontra a polícia carioca, sempre envolvida em escândalos de corrupção, e cuja tropa é acusada de liderar mílicias justiceiras nos morros da cidade. Por coincidência, assisti ao filme no mesmo dia em que o tiroteio entre policiais e traficantes cessou na Vila Cruzeiro, favela da Penha. E para desmoralização da tropa, o cessar fogo foi ordenado por chefões do crime encarcerados no presídio de segurança máxima de Bangu.

A RESENHA
O drama principal de Proibido Proibir se desenrola em torno da relação entre Paulo (Caio Blat), Letícia (Maria Flor) e León (Alexandre Rodrigues). Paulo é um estudante de medicina talentoso e porra-louca, que vive drogado a maior parte do tempo. Ele divide apartamento na periferia do Rio com León, estudante de sociologia, negro, o certinho da dupla, que namora Letícia, uma linda estudante de arquitetura de classe abastada. Por quem Paulo obviamente se apaixona. Pra piorar, ele começa a ser correspondido por Letícia.
O filme estaria bem resolvido se Durán tivesse se contentado em trabalhar esse trio amoroso. Mas o cacoete da denúncia social (pra quem não lembra, são dele os roteiros de Lúcio Flábio, Passageiro da Agonia e Pixote, entre outros) o fez colocar a história do trio num drama paralelo que expõe as chagas do caos social do Rio.
No Hospital Universitário, Paulo conhece Rosalina (Edyr Duqui, em maravilhosa interpretação), uma paciente terminal. E promete a ela encontrar seus filhos. O problema é que um deles foi assassinado por policiais corruptos e o outro está jurado de morte. O trio então resolve tirá-lo da favela e é aí que o roteiro se perde numa profusão de pontas soltas e tentativas de soluções quase infantis.
Nada disso, porém, me faria desaconselhar os amigos a assistir o filme. Os 100 minutos da fita passam em ritmo acelerado. Só os muito exigentes sairão realmente desapontados da sala.

2 comentários:

Don Rodrigone disse...

Tentarei assistir! Ah, obrigado pela sua mensagem, meu caro... foi muito bacana mesmo! Curiosamente a sina da minha avó tinha começado há uns 15 anos também com um fratura no fêmur... enfim, também tento pensar que ela está por aí olhando pra gente... só que ando irritantemente cético ultimamente.

abraço!!

i disse...

Se não me engano, a polícia não pode proibir o uso de fardas em um filme... bom, teria que verificar. De qualquer maneira, apesar do roteiro cheio de problemas e das atuações sofríveis, saí do filme achando-o excelente, graças ao retrato bem feito do nosso ciclo de violência!