sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Indignação e esquecimento

O caso aconteceu na noite de segunda-feira e chocou o Brasil inteiro pelos requintes de barbaridade. Dois bandidos abordaram uma família num carro em Oswaldo Cruz, zona Norte do Rio. A mãe de 41 anos estava ao volante, a filha de 13 anos no banco do carona e o filho de 6 no banco de trás. As duas desceram e, quando tentavam tirar o menino pela porta traseira, os bandidos arrancaram com o carro. A criança ficou presa pelo cinto de segurança do lado de fora.
Os bandidos rodaram 7 km por quatro bairros, até abandonar o carro em Cascadura. No caminho, foram seguidos por motoqueiros e outros motoristas que viam a criança presa do lado de fora, sendo dilacerada pelo asfalto. Não pararam. O menino morreu de politraumatismo. Mesmo habituados a ver as piores cenas de horror ao vivo, os primeiros policiais que chegaram ao local choraram.
Presos no dia seguinte, os bandidos alegaram não ter visto que o menino estava preso pelo cinto; pensaram que estavam sendo perseguidos pelos carros e motos que tentavam avisá-los. Testemunhas dizem, porém, que eles dirigiam em zig-zag, como se tentassem fazer com que a vítima se soltasse. Eles só foram localizados pela polícia porque o pai de um deles, ao saber o que o filho havia feito, o denunciou.
Um dos bandidos é maior de idade, não tem passagem pela polícia. Deve ser condenado a 30 anos por homicídio mas vai cumprir no máximo 5. Isso se não for autorizado para pagar sua dívida com a sociedade em liberdade por ser primário. O outro, menor de idade, deve puxar no máximo 3 anos num reformatório, protegido pelo Estatudo da Criança e do Adolescente (que, infelizmente, não foi capaz de proteger a vítima de 6 anos)
O Rio inteiro chora a morte do jovem João Hélio e demonstra sua indignação com a violência. O Globo Online recebeu 2.500 e-mails ontem sobre o caso, recorde absoluto. Mas quanto tempo vai durar essa indignação? Que efeitos práticos a morte de João Hélio terá na melhoria das condições em que vivemos? Provavelmente, ela terá o mesmo fim da morte de 5 pessoas (entre elas uma criança de 1 ano), num ônibus queimado por traficantes em novembro de 2005; que foi o mesmo destino da morte de uma empresária, cujo corpo foi serrado ao meio por um vigia em Botafogo, em agosto do ano passado; e da morte de sete pessoas em outro ônibus incendiado em dezembro passado.
Com exceção dos pais, irmã e familiares de João Hélio, ninguém mais se lembrará de sua morte quando as rainhas de baterias começarem rebolar suas peles queimadas ao som dos tamborins.

2 comentários:

Anônimo disse...

Muito chocante essa história. Hoje de manhã ouvi no rádio que essa morte motivou nossos parlamentares a tirar da gaveta alguns projetos antiviolência parados desde os ataques do PCC em São Paulo.
Triste saber que nossos políticos agem apenas sob a pressão dos factóides.

F. disse...

Pois é Celina, mas sou quase capaz de apostar com você de que os movimentos dos parlamentares não sobreviverão ao carnaval e voltarão às gavetas... Até a próxima barbaridade.