segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Herói urbano

O 110 Rodoviária-Leblon parece escolher a dedo os dias em que resolve atrasar: aqueles em que o sol derrete a paisagem no horizonte. Depois de 40 minutos de espera, já embarcado, o vento quente soprando calor pelos vidros abertos, o ônibus pára num ponto e um senhor de muletas, pele toda empipocada, sobe pela porta traseira.
O motorista começa a gritar. O senhor aí, tem subir pela frente, não pode entrar por trás. O velhinho nem aí. O motorista insiste. Tem de subir pela frente, meu senhor. O velhinho fingindo de surdo, o sol aquecendo a estufa sobre rodas. O motorista pede uma terceira vez e um passageiro se irrita. Toca aí, motorista. O homem é velho, tá doente. Vambora.
O motorista não se satisfaz com o início de revolta dentro do ônibus - alguns pelo absurdo de exigir passagem a um idoso doente, outros pela demora sob o sol escaldante -, desce e vai até a porta traseira. Sobe para tirar o ancião explicando que o ônibus agora tem câmera. Fica tudo registrado. Por ele, deixava o velhinho entrar por trás; mas, flagrado pela câmera, vai perder o emprego. O passageiro mais exaltado tira os dois reais do bolso e paga a passagem. Onde fica essa câmera? Lá na frente, aquela caixinha alí, respondeo motorista, apontando para um minúsculo quadrado sobre o retrovisor central.
O passageiro move seu 1,90 em direção à lente e começa um discurso. Pra fazer BBB no ônibus vocês têm dinheiro? Deviam era colocar mais carro na rua, que essa linha demora muito, grita o herói urbano, enquanto o ônibus arranca, sacudido pelos aplausos dos demais passageiros.

Um comentário:

Anônimo disse...

Aahahhaha, essa foi muito engraçada!