quinta-feira, outubro 12, 2006

Entrevista com o Cristo Redentor

Pouca gente sabe, mas o dia 12 de outubro, além ser das crianças e da Padroeira do Brasil, também marca o nascimento de um dos maiores ícones da fé em todo o mundo: o Cristo Redentor. Este ano ele completou 75 anos e, para comemorar, recebeu o blog A Casa da Lagoa com exclusividade para a seguinte entrevista.

A CASA DA LAGOA - O senhor está completando 75 anos de braços abertos. Como foi passar esse período todo aí sobre o Corcovado?
CRISTO REDENTOR - É irmão, não foi fácil não...

CL - "Irmão"? Como assim, o senhor também aderiu à gíria dos bandidos?
CR - Que gíria? Somos irmãos, todos filhos de Deus, esqueceu?

CL - Ah, entendi. Mas o senhor estava dizendo que não foi fácil...
CR - Exatamente. Você acha que é brincadeira passar todos esses anos de braços abertos? Sabe quanto pesa cada braço meu? 57 toneladas. E cada mão mais 8 toneladas! É um esforço e tanto. E nunca posso descansar um segundo, porque isso aqui tá sempre cheio de gente, helicóptero voando em volta com turistas tirando fotos... Não dá pra abaixar os braços nunca.

CL - O senhor recebe muitos cariocas todos os dias?
CR - Vamos esclarecer. Eu recebo muitos visitantes todos os dias, mas cariocas são poucos. Quase não vem carioca aqui não.

CL - Como assim?
CR - Você já viu quanto estão cobrando para subir até aqui? R$ 36 por pessoas. Ainda bem que eu nunca desço, ou na volta teria de levantar ainda mais os braços. Esse preço é um assalto! Cobrando tudo isso, só aparece estrangeiro por aqui.

CL - O senhor está no Morro do Corcovado, a 710 metros de altitude, com a melhor vista da cidade. Isso tem um preço, certo?
CR - Tem mesmo. Você conhece bem o Rio de Janeiro? Se conhece, sabe que aquela história de que aqui não faz frio não é bem assim. No inverno, este morro é o lugar mais gelado da cidade. Já no verão, é um calor insuportável, um verdadeiro inferno aqui em cima, com o perdão da palavra. Fora as vezes em que eu fico com a visão encoberta pelas nuvens. Já virou até bordão entre os cariocas. Quer saber quando vai chover? Olha para o Cristo. Se estiver encoberto... Ou seja, aqui é o primeiro lugar em que começa a chover. Não é fácil ficar plantado aqui em cima...

CL - Bom, mas o senhor está de frente para uma das vistas mais lindas do mundo.
CR - A vista da Baía de Guanabara, com o Pão de Açúcar? Até já enjoei, pra dizer a verdade. Prefiro aqui do meu lado direito, com a Lagoa Rodrigo de Freitas, Ipanema e Leblon. À minha esquerda fica o centro com todas as suas favelas e misérias. É pra lá que eu deveria olhar mais.

CL - No Centro também tem o Sambódromo. O senhor consegue assistir ao Carnaval aí de cima? Ou não pode por causa da nudez feminina?
CR - Consigo sim. Esse negócio de mulher pelada é bobagem. Passa até na novela das oito, não vou ver no Sambódromo? Agora, vou te confessar uma coisa: lá pelas 4 da manhã, começa a encher um pouco essa batucada. Podia acabar um pouco mais cedo pra me dar um sossego. Carnaval é fogo, meu irmão. A cidade enche de turista, isso aqui não pára. Fica lotado o dia todo. E à noite, é só batucada. Não tem Cristo que agüente.

CL - Por falar em Carnaval, o senhor já foi motivo de polêmica no Sambódromo quando tentaram usar sua imagem e a sua igreja reclamou...
CR - Alto lá. Como assim "minha igreja"?

CL - A Igreja Católica Apostólica Romana...
CR - Essa igreja não é minha. Eu nasci e morri judeu. Quem mudou minha religião foi o Simão, depois que eu tinha morrido, sem nem me consultar...

CL - O senhor quer dizer Pedro? Foi Pedro quem fundou a Igreja...
CR - Viu só? Ele mudou até o nome dele. Tinha mania dessas coisas. Aí fundou essa Igreja nova e eles se apoderaram da minha imagem. Não concordo com nenhum tipo de censura.

CL - Já que o senhor é contra a censura, não vai se negar a nos dar suas medidas. Até que o senhor está bem para quem tem 75 anos...
CR - Vamos lá: tenho 30 metros de altura e estou sobre um pedestal de mais 8 metros. Mas não me venha com essa de salto alto. Meu peso total é de 1.145 toneladas. Tá bom, pra minha altura.

CL - Para encerrar, o senhor afinal vai ou não voltar à terra?
CR - Irmão, eu estou aqui parado há 75 anos, com toda essa altura que acabei de revelar, e as pessoas nem prestam atenção em mim. Pagam esse dinheiro todo para subir e ficam fotografando a vista. No máximo apareço na paisagem das fotos de uns turistas que imitam minha posição, de braços abertos. Agora, se aqui em cima, com todo esse tamanho, ninguém olha pra mim, imagina se eu voltar como algum deficiente desses que se arrastam pedindo ajuda nos trens do subúrbio, ou como um morador de rua maltrapilho? Ninguém vai acreditar que sou eu. Fala a verdade: se eu aparecesse no Largo da Carioca barbudo, de túnica, dizendo "sou Jesus Cristo, voltei para salvá-los", blá, blá, blá... Você ia acreditar em mim? Duvido. Melhor ficar quietinho aqui no meu Corcovado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Criatividade mil! Parabéns!