terça-feira, agosto 22, 2006

Olhar estrangeiro

Na semana passada, na quinta, conheci um casal de portugueses que há quatro meses mora no Brasil. A moça se diz mais acostumada agora. No início, estava um pouco acuada, sentia-se muito estrangeira. Evitava até falar nos lugares públicos. Não queria denunciar sua origem. Medo de virar alvo de bandidos só por ser estrangeira.
A conversa dá voltas na mesa e agora é o rapaz a conversar comigo. E o que está a achar do Rio? Tem sítios muito bonitos, é um excelente lugar, apesar de tudo. É uma pena mesmo. Pena não, é uma vergonha, corrigiu-me ele.
Não é mera semântica. Como criador do idioma que falamos, ele foi preciso. A violência do Rio não é algo que se deva lamentar, como se fatalidade fosse, impossível de ser solucionada. A violência do Rio é uma vergonha mesmo, fruto que é da nossa falta de vontade política para acabar com ela.
Esse diálogo aconteceu na mesma semana em que um turista, por coincidência também português, foi assassinado nas areias de Copacabana. O assassino esfaqueou o rapaz de 19 anos quando tentava roubar-lhe a mochila.
O crime chocou a cidade - mais pelo prejuízo à imagem do Rio no exterior, menos pela vida do turista. (Afinal, o que é uma juventude desperdiçada numa terra onde tanta gente morre todos os dias?)
O homem que há seis anos responde por alcaide do balneário foi aos jornais tranquilizar o povo: Em Nova York também morrem turistas. Então, tudo certo. Estamos apenas a seguir tendências primeiro-mundistas...

3 comentários:

Anônimo disse...

Esse é o resultado do desmonte do Estado, iniciado a cerca de duas décadas: polícia despreparada, mal remunerada e com efetivo insuficiente ao atendimento populacional. Resultado: a bandidagem agradece e vai tomando conta. Parabens a vocês que estão alertando para a situação.

Anônimo disse...

Parabéns Ferdi. Seu texto é rico em conteúdo e forma. Seria bom que homens com responsabilidade pública pudessem ler e se inspirar para ações humanísticas.
Beijo.

Anônimo disse...

Parabéns Ferdi. Seu texto é rico em conteúdo e forma. Seria bom que homens com responsabilidade pública pudessem ler e se inspirar para ações humanísticas.
Beijo.