sábado, dezembro 23, 2006

O surto do 13º

Talvez seja o espírito natalino, talvez seja o calor da guanabara. Ninguém sabe explicar muito bem o surto de benevolência que acomete a cidade no mês do 13º. Como que por milagre, daqueles que nem Papai Noel realiza, todos que têm algum poder querem usá-lo para melhorar a vida dos que passam o resto do ano elegíveis aos 95 reais do bolsa família. Nem que, para isso, distribua a renda alheia.
Acometida desse surto, por exemplo, a caneta do prefeito assina, todo mês de dezembro, um decreto autorizando a bandeira dois nos amarelinhos. 24 horas por dia, sete dias por semana.
- É o nosso 13º, chefia - explica o taxista que, graças à benevolência da caneta socialista, engorda o peru de Natal entre três e cinco reais por corrida, dependendo do trajeto.
A pistola do chefe da boca de fumo na Cidade Nova também é sensível às barbas brancas de Noel. Durante o ano todo ela cospe chumbo nos pequenos bandidos que se atrevem a realizar pequenos furtos na região do movimento. Em dezembro, se cala e tolera a transferência forçada de renda dos trabalhadores pobres que circulam pela região para os vagabundos de todas as idades que precisam melhorar a ceia de natal.
Os roubos aumentam consideravelmente nas ruas em volta dos morros de São Carlos e Boréu, mas não vá abusar da boa vontade da pistola. Assaltar pode, atirar no assaltado não. Porque, aí, quem fica sem 13º é o traficante. Vítima baleada nas redondezas derruba as vendas da boca. Não por causa da presença da polícia, veja bem. O problema é a imagem de área violenta.
Má fama derruba mais os lucros do que as viaturas da corporação. A presença da polícia é rotina na área, carros totalmente apagados, sem incomodar ninguém. Afinal, os tiras também precisam do 13º para engordar o peru de Natal.

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