sexta-feira, setembro 08, 2006

Bairrismo explícito

Entre tantas experiências novas, morar no Rio me deu a chance de experimentar o ser forasteiro e de repensar a forma como sempre tratei forasteiros na minha própria cidade. Como a maoiria das pessoas que passaram mais de 15 anos em bancos escolares, eu não me considero preconceituoso ou bairrista. Mas será que realmente não sou?
A rejeição carioca a tudo o que lembra ou remete a São Paulo me incomodou muito desde que cheguei aqui. E o mais engraçado é que, na maioria das vezes, quem mais agride paulistas jamais pisou na terra da garoa. Os ataques vão das piadas pretensamente inocentes até manifestações raivosas contra o que não se conhece. Comecei a me questionar. Será que eu fazia o mesmo com cariocas em São Paulo?
A Pri não concordava com as minhas queixas a amigos cariocas. Dizia que eu levava muito a sério as piadas. Até o dia em que ela trombou de frente com uma agressão despropositada.
Transitávamos de bicicleta pela Lagoa, a caminho do vôlei nosso de cada domingo, quando um casal caminhando desavisadamente fechou a sua passagem num trecho de velocidade. Ela freou e se queixou: "Pô, meu, precisa fechar a ciclovia toda?". Qual a foi a reação imediata da mulher? "Volta pra São Paulo, paulista!" Gritando, numa ferocidade despropositada.
Talvez eu fizesse as piadas, talvez imitasse o sotaque carioca. Mas agredir alguém pela sua origem, isso nunca fiz. Nem com cariocas, nem com gente de lugar algum. E essa cena aconteceu em plena Lagoa Rodrigo de Freitas, habitada pelo topo da pirâmide do IBGE. Gente que passou mais de 15 anos em bancos escolares - em alguns casos, fora do Brasil. Só posso mesmo lamentar.

4 comentários:

Marina disse...

Infelizmente 15 anos de escola não garantem mesmo o fim da ignorância. Continuo adorando os textos de vcs. beijos.

Anônimo disse...

Haverá um dia em que compreenderemos a real dimensão de nosso Ser, impregnado de talentos e defeitos, o que nos permitirá aceitar cada qual como é. Poderíamos falar de bairrismo, municipal, estadual ou até mesmo nacional, entretanto, o Universo é muito maior.
Beijo.

Anônimo disse...

Como pta, também tive minha parcela de alegrias e tristezas no RJ...a alegria de sair mais cedo do trabalho e pegar uma prainha...de passear de bicicleta na Lagoa...de passear despreocupadamente (ou quase...) em Sta Teresa...mas te confesso q estou para ver pessoal mais bairrista do q os fluminenses !
Talvez seja uma mistura de raiva com inveja de morar em uma cidade q apesar de linda (a mais bela do Brasil, indiscutivelmente) não funciona...
Engraçado q essa mania de comparar SP com RJ não é nossa, é deles. Como se houvesse comparação, aliás...o RJ tem cerca de 6 milhões de pessoas...SP, 16 milhões. E por incrível q pareça, apesar da disparidade populacional, os problemas são os mesmos !
O RJ tem de ser comparado à Curitiba, Porto Alegre, "grande Campinas", Rio Preto...ou estaremos comparando sempre coisas diferentes...

Belo texto !

Anônimo disse...

De fato, não há que se negar que a cidade do Rio de Janeiro é maravilhosa. Todavia, não se torna tão atrativa para se visitar, infelizmente, por conta de sua gente. O "bairrismo" existe sim e de modo muito ostensivo, beirando o discrimitório, com os seus visitantes. Não há qualquer interesse em tratar bem o turista, diversamente do que ocorre em todo o nordeste do país. No trânsito ninguém se entende, e é marcado pela total ausência de solidariedade. Aliás, este é um grande termometro para expressar o comportamente das pessoas, pois se utilizam do trânsito como forma de expressão.